segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

“Eia . . . estamos no tempo de matar os porcos !!!”





Esta é, meus queridos leitores, a expressão que corre pelo Corvo nesta altura do ano: de facto em quase todas as famílias da Ilha vão-se fazendo os preparativos para a matança dos porcos.
E numa Ilha como a nossa ainda há muita gente que aproveita os dias da matança para reunir a família e os amigos, num misto de trabalho e de alegria, de festa e de colaboração – um sinal positivo de solidariedade e entreajuda, num tempo em que estes valores vão rareando na sociedade em que vivemos.
Actualmente a maioria das famílias mata os seus porcos no matadouro, onde as condições abonam em favor da higiene, da limpeza e até da saúde pública. Conversando com o Amândio Cabeceiras que trabalha na casa da matança do Corvo, ele informou-me que a média de suínos abatidos por ano ronda os 150 animais e a estes devem ainda acrescentar-se uns 50 bovinos. Mas há ainda alguns “resistentes” que gostam de fazer tudo à moda antiga: matam os porcos em casa, com a ajuda preciosa dos amigos e da família porque, segundo eles, “há tradições que não se podem perder uma vez que as herdamos dos nossos pais”.
O senhor Alfredo Pimentel é um destes amantes da tradição corvina em todos os sentidos: nos dias da matança a sua casa, situada na Rua do Rego, vive num entra e sai de gente, alegria e fartura. Os serões são sempre animados pelos acordes do bandolim e pela frescura de um bailarico – tudo bem regado por uma boa pinga, aquela que “alegra o coração do Homem” como bem diz o Salmo.
Durante o almoço de Domingo perguntei ao Tibério e à Fátima Silva como faziam os Corvinos para guardar e conservar as carnes dos animais que são abatidos. Eles lá sabiamente me explicaram que o trabalho é dividido em 5 fases. Abatido o animal, a primeira operação é derreter as gorduras em grandes caldeirões enquanto isso dividem-se as carnes – uma parte é posta em vinha e alhos para ser frita e posteriormente entalada na gordura; outra porção é metida nas salgadeiras, para que ao longo do Inverno se vá fazendo as “couves da Barca”, o único prato típico da Ilha do Corvo.
Outra parte da carne cortada, metida em sacos plásticos e posteriormente congelada – as aparas são aproveitadas para fazer as saborosas linguiças, que ao longo do ano temperam as sopas e são servidas com inhame ou batata-doce.
Á tarde, enquanto subia as íngremes escadas do Rego, lá entrei em casa da senhora Manuela Nunes, uma venerável e alegre anciã com 86 primaveras e encontrei-a junto à lareira a “virar as linguiças”. Dizia-me então que durante 9 dias os enchidos ficam a curar no fumeiro para depois serem devidamente acondicionados.
E é este um tempo de fartura e de festa no Corvo. Ouve-se dizer por todo o lado que “temos que matar os nossos porquinhos, porque o Inverno é grande e, se for rigoroso, a lancha pode ficar várias semanas sem vir à Ilha”.
Aqui está uma realidade que é própria do Corvo: os seus habitantes têm que se abastecer para viver mais um Inverno, que só Deus sabe como será, desconhecendo-se também as vezes que as mercadorias desembarcam no Porto da Casa.
Quando disse que os Corvinos tinham grande espírito de sobrevivência significa que eles sabem prevenir-se e garantir que em cada dia, não falte à sua mesa o pão e os alimentos necessários. É bom recordar aos leitores que aqui não existe nenhum talho nem charcutaria.
E por hoje é tudo. Na próxima semana quero trazer até junto de vós uma festa inédita que vai encher de Música a Matriz do Corvo . . .


Pe. Alexandre Medeiros
Pároco do Corvo

padrecorvo@gmail.com


Um comentário:

Unknown disse...

ola senhor padre.So agora descobri este blog que adoro,acho-o muito importante ate ao ponto de o enviar a todos os meus familiares imigrados.força tao mesmo todos lindos