segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

Em honra de Santa Cecília, a música fez-se festa no Corvo


Domingo, meus queridos leitores, foi um daqueles dias em que no Corvo se entoou o cântico novo anunciado pelo salmo bíblico.
A própria festa de Santa Cecília aparece na Ilha como uma autêntica novidade: os corvinos, na sua maioria, desconheciam a vida da Padroeira dos Músicos – uma santa que viveu no século II em Roma ficando registada no martiriológio como virgem e mártir.
Sapiências à parte, o objectivo da festividade era reunir os músicos nos seus grupos e instituições, para que animassem a liturgia de uma Eucaristia solene em honra de Cecília, a santa da Música.
E a iniciativa caiu bem no goto dos artistas: era ver a animação nos ensaios, a perícia na colocação das vozes e o afino dos instrumentos musicais. A população, por sua vez, também permanecia expectante pelo inédito evento: era vê-los a observar o cartaz publicitário espalhado pela vila enquanto comentavam que não queriam faltar à festa da música – até porque alguém da família iria “subir ao palco”.
Na tarde do Domingo foram feitos os últimos preparativos na Igreja: enquanto a senhora Fátima Jorge colocava o frontal vermelho no altar, a Ana Maria ensaiava ao órgão as notas do salmo. Colocavam-se as cadeiras para os “bispos” e acertavam-se os livros litúrgicos. Tudo tinha que estar a postos para que a festa fosse realmente brilhante.
Entretanto no coro da Matriz, Mike Hermann, um alemão residente no Corvo há 9 anos, preparava para o povo a mais bela e clássica das surpresas musicais. Ele iria executar no seu órgão de tubos virtual uma peça de Johann Sebastian Bach – um feito verdadeiramente notável na pequena Grande Ilha.
E foi ao som da música clássica que se deu início à Solene Eucaristia em honra de Santa Cecília – numa igreja completamente cheia o ambiente era de recolhimento e de espiritualidade. Ao meu lado sentou-se a mais ilustre das personalidades do Corvo em matéria de música, o senhor Pedro Pimentel Cepo – o Ti Pedro como carinhosamente é tratado na sua Ilha. Permitam-me que lance um alerta aos responsáveis da nossa terra: falta uma homenagem pública do Corvo ao Ti Pedro!!! Se a República já reconheceu o mérito do venerável ancião com 93 anos, chegou à hora dos Corvinos prestarem a justa homenagem àquele que na arte da música e do canto, ocupará sempre o primeiro lugar. Ou terá que ser uma verdade incontornável que ninguém é profeta na sua terra????
Iniciada a celebração da Missa os diferentes cânticos foram brilhantemente executados, em alternância pelo Grupo Coral Paroquial; pelos Escuteiros do Agrupamento 1181 do Corpo Nacional de Escutas; pelo Grupo Musical VengaBanda e pela filarmónica, a nossa Lira Corvense.
Todos deram o seu melhor, sendo o esforço e a dedicação dos ensaios retribuído nos sucessos dos cânticos litúrgicos e da festa em si.
No Salmo Responsorial cantado pela senhora Rosa Rita, fica resumido o espírito de toda a festividade – o entusiasmo e a vontade em cantar um cântico novo pelas maravilhas que Deus continua a realizar nos seus filhos, reunidos na Igreja sua Esposa. Que esta efeméride tenha sido fermento de unidade entre os diferentes grupos musicais, uma vez que até na música, aquilo que nos une é sempre muito mais forte e importante do que aquelas coisas que nos podem separar e dividir.
No fim da Missa e já no adro da Igreja as pessoas davam a sua anuência e manifestavam a sua alegria pelo sucesso da iniciativa e pelo compromisso de todos os participantes. Algumas ao cumprimentarem-me diziam “parabéns ao senhor Padre pela festa . . . estava tudo muito bem” ao que eu gostosamente retorquia – os parabéns são todos para os corvinos porque a festa foi feita pelos músicos da nossa terra. Eu limitei-me a convocar os grupos e a fazer a minha parte.
É claro que estou muito satisfeito e digo-vos que o Corvo só se desenvolverá quando os Corvinos se dedicarem de corpo e alma à causa da sua terra. No Domingo deram um grande passo neste rumo . . .


Pe. Alexandre Medeiros
Pároco do Corvo

padrecorvo@gmail.com

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