segunda-feira, 22 de janeiro de 2007

O CORVINO NATAL


E passadas que estão as Festas do Natal, permitam os meus queridos leitores, que partilhe algumas vivências da corvina celebração do nascimento de Jesus, da Festa da Família e da Fraternidade.
Ao longo de toda a semana que antecedeu a grande noite, os Escuteiros reuniram-se na Igreja Matriz e transformaram o templo na gruta de Belém. E era ver a animação daqueles jovens – enquanto uns traziam os fardos de palha, os mais afoitos subiam a escada para colar o papel de cenário; na sacristia recortava-se uma grande estrela que havia de ser colocada sob o arco da capela-mor, e no adro as canas eram arranjadas e alinhadas, para que se fizesse um típico pórtico à entrada da Igreja.
Enquanto isto, cada família preparava-se para a grande celebração – ultimavam-se as compras para consoada; dava-se o último retoque naquele presente e, aguçava-se a curiosidade e a impaciência dos mais novos com a chegada do simpático Pai Natal.
O sábado, 23 de Dezembro foi o dia de todos os ensaios para a encenação do Presépio Vivo: às 15 horas reuniu-se a Catequese. Alunos e catequistas dividiram os papéis, arranjaram as roupas para os personagens e escolheram a melhor forma de actualizar o nascimento do Messias.
Por sua vez, os elementos do Agrupamento 1181 do Corpo Nacional de Escutas, reuniram-se ao serão para ultimar os pormenores do ambiente – colocaram a palha no corredor central, dividiram as lanternas ao longo das paredes laterais e dispuseram as alfaias agrícolas junto ao local onde se recriaria a cena bíblica . . . tudo estava pronto para a Festa do Natal.
O dia seguinte era de Consoada – as ruas desertas eram o sinal evidente de que as famílias estavam reunidas para a grande refeição. Na mesa “nataliciamente” decorada, fumegavam as saborosas iguarias, de entre as quais era rei o bacalhau. Naquela noite mágica todos estavam reunidos à volta da alegria da esperança e do amor. Quem dera que a consoada nos ensinasse a celebrar e a saborear as outras refeições do ano.
Às 23 horas abria-se a porta do grande presépio, no qual estava transformada a Igreja Matriz. Vagarosamente os cristãos iam-se dirigindo para a Missa do Galo. Com as 12 badaladas dava-se início à sagrada celebração – entravam em cena Maria e José, os Pastores e claro o Menino Jesus. Era como se os habitantes do Corvo tomassem parte no mistério do nascimento de Deus – estava-se lá não como espectadores mas como personagens. A palha espalhada no corredor central da Igreja comprometia aqueles que entravam para a Missa – porque eles pisavam o mesmo caminho que a Sagrada Família.
No fim da Eucaristia e após o gesto tradicional de “beijar o Menino Jesus” os corvinos lá partiam para a sua casa ou para a moradia dos amigos e familiares, onde se davam as boas festas. Um pequeno grupo de pessoas agrupou-se de improviso à saída da Matriz e lá foram rua fora a saudar o Menino e, claro está, a aquecer as vozes com as visitas domiciliárias.
Na tarde do dia 25 de Dezembro a Igreja Matriz voltou a abrir as suas portas para a celebração da Missa do Dia de Natal. Desta vez a animação do Presépio vivo estava a cargo da Catequese Paroquial – era ver a alegria das crianças e dos adolescentes ao encarnar as personagens bíblicas. Não é em vão que se diz que o Natal é a Festa das Crianças e por consequência a Festa da Vida.
Quando a Missa terminava e eu fechava as portas do grande Presépio sentia uma enorme alegria, porque a Comunidade cristã que vive na Ilha do Corvo se tinha reunido para celebrar o Nascimento de Jesus – e mais do que tudo procurava unir esforços em prol de um projecto verdadeiramente comunitário.
Agradeço por isso a Deus, pela Comunidade cristã que Ele confiou aos meus serviços: aos jovens escuteiros e às suas dirigentes; às catequistas e aos alunos da Catequese; ao Grupo Coral que harmoniosamente cantou as celebrações – e a todas as pessoas que de alguma forma permitiram que a celebração de Natal no Corvo fosse simplesmente inesquecível.
Partilho também com todos vós o melhor presente que recebi – o carinho e a amizade de um povo com qual tenho a honra de partilhar a fé e conduzir pelas sendas da esperança cristã . . .


Pe. Alexandre Medeiros
Pároco do Corvo

padrecorvo@gmail.com

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